Pular para o conteúdo principal

Neófito: Porque não?

por Samildanach

Tudo é novo. Quando se pratica a Arte solitariamente e se pretende buscar um coven para melhor trabalhar, unir forças, buscar com quem trocar conhecimentos e buscar uma vivência numa família espiritual é abrir novos horizontes no contato com os deuses. No entanto, muitas vezes nós (falo "nós" porque já fui solitário) chegamos sempre com um ar de superioridade, como se de tudo soubéssemos, principalmente se já éramos praticantes desde certa data. Falo de experiências próprias. Muitas vezes buscam covens pessoas que dizem ser de famílias tradicionais da arte, que tem uma tradição familiar, iniciados nesta ou naquela tradição, de conhecimentos mil, mas muitas vezes apenas especulações vãs e propagandas para que o mesmo possa, já de primeira olhada, ter alguma regalia num grupo. Bom, mas não é nosso papel discutir a idoneidade de títulos de uma pessoa. O assunto é sobre o susto e a indignação que se vê na maioria destes casos quando o sacerdote do grupo diz: "Pois bem, você passará um tempo no coven como neófito".

Sei muito bem que ouvir algo deste tipo não é fácil, pois mexe com nosso ego e nossas vaidade, então um misto de ódio e mágoa toma o coração do "Grande Bruxo", como se lhes fosse dado uma patente menor. Esse tipo de pessoa já chega ao grupo como grande sábio e lhe parece que tudo pode fazer sem comunicação alguma com o grupo. Geralmente, ele diz-se versado nas mais diferentes práticas de Alta e Baixa Magia, oráculos e tudo mais que acaba tornando seu conhecimento caótico, uma verdadeira "salada mística". O ódio vem seguido de uma das piores medidas que ele toma: a difamação como medida protetora. Aí entra o que de pior pode existir num círculo de práticas: fofoca, mentiras, discussões e tudo mais que destroem a espiritualidade e desestabilizam a energia de um grupo. O grupo que antes era o seu maior desejo como praticante da religião passar a ser só "um grupinho de Wicca". O rito não flui mais como antes, não nos sentimos confortável "entre mundos" com aquela pessoa. Adeus "perfeito amor e perfeita confiança".

No entanto, me vem à mente o seguinte questionamento: o que pode ofender alguém, que se diz ser praticante da Arte Antiga, filho dos Deuses e futuro dedicado, ter o título de neófito? Os seres humanos buscam títulos, seja de doutor, advogado ou o que seja, como se isso os tornassem pessoas melhores. Mas nós, que andamos na contramão dessa sociedade patriarcal elitista em vigência, não deveríamos pensar isso como um rebaixamento. A Grande Mãe por muito tempo foi marginalizada – e ainda é, de certa forma, até hoje – com títulos tão repugnantes dados por uma sociedade machista e desumana, mas ela e seus filhos não revidaram da mesma forma, e sim dando-se a conhecer e querendo o bem da humanindade. Não devemos entrar no jogo do "quem mais agüenta murro".

Muitos jovens têm um amadurecimento mais rápido que muitos adultos, no entanto deixaram de serem jovens? Mesmo um bruxo solitário, que estuda e pratica a bruxaria por anos, não têm a vivência do que é partilhar o círculo com outras pessoas e viver uma realidade mágica em comunidade. São novos ares, novo momento de buscar experiências diferentes, bem como romper com esta idéia de títulos, que só serve a seres inseguros, que só querem se auto-afirmar. Romper com essas concepções é primordial para uma vivência completa e profunda desse momento que é um dos mais importantes para um pagão: a dedicação.

A magia está em você? Este é um questionamento que temos que ter todos os dias, e ela não está em títulos, pois não adianta ser um Alto Sacerdote e não ter uma vivência mágica, não dominar a prática mágica hábil, não ter uma conexão com os deuses considerável e tudo mais inerente ao seu "título".

E tendo título, será que você o merece? Se queres ser chamado de sacerdote, haja como tal, viva seu sacerdócio, seja sério, comprometido e íntegro na religião e não mero praticante de "receitinhas" mágicas e crítico de assuntos os quais não conhece.

Se é apenas poder e títulos que queres, busque outra religião, pois há muitas que te oferecerão o mesmo por menos esforço. Wicca é para quem ama e tem compromisso com os Deuses, as pessoas, os irmãos da arte e, sobretudo, com o que você é, diz e faz.

Blessed Be.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Yule: O nascimento da Criança da Promessa

"A escuridão reina como se estivéssemos no caldeirão da Deusa. Assim, o Rei das sombras transforma-se na Criança da Promessa , o Filho do sol, que deverá nascer para restaurar a Natureza" . (Mito da Roda do Ano) Yule se origina da palavra nórdica Iul  que significa roda e  dá nome a celebração do solstício de inverno, a noite mais longa do ano . Nesta época (21 de dezembro no Hemisfério Norte e  21 de junho no Hemisfério Sul) vemos simultaneamente a morte e o renascimento do Deus Sol.  É o momento de pensar sobre o que você deseja nos meses que virão, de delinear os objetivos e como deseja trabalhar para atingi-los. Peça orientação da Deusa e do Deus. Cores: vermelho, verde, dourado e branco. Nomes Alternativos: Solstício de Inverno, Winter Rite, MidWinter, Alban Arthan, Carr Gomm, Retorno do Sol, Dia de Fionn. Deuses: o Deus, como a Criança da Promessa, e a Deusa, como a Mãe. Ervas: azevinho, carvalho, visco, alecrim, urze, cedro, pinho, louro. Pedra

Branwen

Filha de Pennardunn e Llyr (Deus Galês do Mar), irmã de Manannan Mac Lir e Bran , Branwen – seios brancos ou vaca prateada - é a Deusa Galesa do amor e da beleza – é a Afrodite ou Vênus dos Celtas. Sua cor é a branca, é considerada a Deusa do Coração Puro, que possui a capacidade de promover reinícios. Está associada à Lua e à Noite. No cristianismo é a Santa Brynwyn, padroeira dos namorados. É juntamente com Rhiannon e Arianrhod uma das três matriarcas da Grã-Bretanha e é considerada a principal Deusa de Avalon. De acordo com algumas lendas arturianas é considerada a Dama do Lago. Branwen deve ser invocada para abençoar novos projetos, pois seus atributos mágicos são a inspiração e as novas idéias. Também para ajudar a enfrentar perdas (separação, perda de emprego, morte). Tem como símbolos o caldeirão, a Lua, o corvo branco, a pomba e o estorninho . Branwen aparece em nossas vidas para fortalecer a conexão com a nossa própria essência, ajudando a apreciar nosso pró

As Três Faces do Deus

O Deus, assim como a Deusa, possui também três aspectos: o Cornífero, o Homem Verde e o Ancião. Cada face está associada a um período da evolução humana e de nossa própria vida e da roda do ano. Cernunnos O Cornífero  é a face do Deus que exerce domínio sobre as florestas. Ele é a representação da Natureza intocada e de tudo o que é livre. Nesse aspecto o Deus assume a face de Caçador e representa a renovação, virilidade, força, fertilidade e vitalidade. O Cornífero exerce domínio sobre os animais selvagens e ferozes. Esteve em contato direto com a humanidade principalmente nos períodos Neolítico e Paleolítico, onde os homens subsistiam principalmente da caça.  Os exemplos associados à face de Cornífero do Deus são  Cernunnos,  Pan,  Esus e  Odin . Sileno O segundo aspecto do Deus é o  Homem Verde  ( Green Man ), Ele é o Senhor da Colheita e de toda a Natureza cultivada. Está relacionado aos grãos e ao desenvolvimento da agricultura. Exerce domínio sobre a vida e o cresc